Jamais perdemos a qualidade de ser únicos
Os casamentos,
como estão sendo vistos atualmente, não estão dando certo. Nem é para menos! Da
forma com que são interpretados, cada cônjuge acaba ficando sem identidade e individualidade, com a
mulher muitas vezes perdendo até o sobrenome!
Dois seres se
tornarem um não deve implicar a perda da individualidade, coisa impossível de realmente ocorrer!
Sempre, de antes do nascimento até a eternidade, o indivíduo se mantém como
indivíduo: jamais perdemos a qualidade
de ser únicos. O casamento humano,
com seu sistema de submissão um ao outro, tenta anular o que de mais precioso
cada um possui aos olhos de Deus: a sua individualidade espiritual, ou seja, a
manifestação do próprio Deus como homem e como mulher. Temos todos qualidades e
dons que não se destinam a ficar anulados simplesmente porque alguém se casou.
No casamento espiritual, pelo contrário, em vez de submissão existe liberdade.
Um cede ao outro total liberdade, reconhecendo este ponto logo que se casam.
Depois de trinta anos de experiência, concluí que somente darão certo os
casamentos em que houver a mútua concessão de liberdade. Cada um vivendo a
própria individualidade e, ao mesmo tempo, sem
exigências, compartilhando a vida a dois.
Se no casamento
humano homem e mulher têm direitos legais, no casamento espiritual a coisa é
diferente: ambos têm somente o privilégio de amar e compartilhar, sem direito algum de fazer exigências. Não
cumpriremos nossa experiência humana enquanto não pararmos de aprisionar alguém
como vítima de nossos direitos.
Geralmente, no
casamento humano, o marido assume a função de sustentar a mulher.
Espiritualmente, jamais ela fica nessa dependência, pois estaria negando sua
divina herança de se manter autosuprida graças à sua comunhão com Deus. Quando
esta herança é reconhecida, o marido é liberto para compartilhar, liberto das
obrigações legais que o forçariam a fazer alguma coisa. Ninguém gosta de agir por obrigação! Nem legal nem moralmente!
Porém, quando fazemos as coisas espontaneamente, de livre vontade, sentimos enorme
prazer. São feitas de coração, e não movidas por alguma lei de tribunal humano.
A volta ao lar do
“filho pródigo” é o casamento místico. Quando o indivíduo, que se via separado
de Deus, descobre sua unidade consciente
com Ele, temos o casamento místico.
Separado de sua Fonte, jamais o homem será completo!
O indivíduo,
quando está consciente de sua unidade
com Deus, encontra sua unidade com todo ser e ideia espiritual— e isto inclui todo tipo de relacionamento no céu e
na terra. O casamento humano, portanto, é a expressão visível do casamento místico, da unidade consciente com
Deus. Sem esta base real de
fortalecimento espiritual, casamento algum poderá resistir. Quando cada um,
homem ou mulher, fizer o contato consciente com Deus, estará em contato consciente com seu par, com os filhos, vizinhos,
nação e resto do mundo. Jamais haverá
esta “união fortalecida” sem que
haja, antes, o relacionamento de união
com Deus. Aí, sim, teremos
uniões fortalecidas em todas as esferas
humanas.
Não devemos crer
no casamento como instituição permanente,
a menos que ele tenha sido fruto da
conscientização de unidade com Deus por
parte do casal. Então, sim, haverá a união impossível de ser rompida.
Ouve-se muito, em cerimônias de casamento, a frase “o que Deus uniu não se pode
separar”. De fato, o que Deus une ninguém conseguirá separar! Será um
relacionamento indestrutível, mas se for
consolidado realmente por Deus.
Inexiste unificação, inexiste união, exceto
na consciente união com Deus.
De minha própria
experiência, posso adiantar que as
desarmonias não têm acesso ao
lar ou casamento em que o casal com
frequência se une em meditação.
Se algo pude aprender em minha vivência espiritual, tal aprendizado foi o
seguinte: onde quer que nos unamos em
meditação, ocorre o desdobrar do amor.
Para que um
casamento não se restrinja ao mundo visível, e seja uma união do Reino de Deus,
para que ele tenha, não a “paz do mundo”, mas a “Paz celestial”, deverá existir
não somente por um vínculo espiritual, mas também ser mantido por constante meditação, em que nos unimos a Deus e nos
unimos mutuamente.
Este é o segredo
da meditação. Com ela, unimo-nos a Deus e nos descobrimos em unidade com toda a humanidade sensível à
espiritualidade. Isto se torna ainda mais real no casamento. Na união com
Deus, principalmente quando homem e mulher se unem para meditar, ambos
descobrem entre si um elo indissolúvel, uma vez que o relacionamento que daí
emerge, é algo muito além daquele meramente pessoal. Ele transcende inclusive o
bom relacionamento humano. Dissolve todo o mal entre os casamentos comuns,
dissolve toda a sensualidade, todo ciúme, toda malícia, toda exigência, e se
torna a livre doação de Deus a nós, e a cada um, reciprocamente.
Não há questão
alguma, num lar, que não se resolva pela
meditação conjunta, desde que ambos abram mão de querer fazer prevalecer a sua vontade ou desejo pessoal,
para que a Vontade de Deus possa ser feita. Este é o segredo,
e não há outro. Todos os tipos de
relacionamentos humanos podem ser mantidos
em harmonia; porém, esta possibilidade somente
existe pela submissão de nossa vontade a Deus, e nunca pela submissão mútua
de nossa individualidade.
Sempre devemos honrar e respeitar a individualidade do
outro. Recordemos que, da infância à fase madura, temos em cada casal duas
pessoas trazendo traços individuais de
caráter, de hábito e de vida; assim, não nos iludamos: tudo aquilo não ficará passível de resignação somente por ter ocorrido
um casamento! Portanto, mesmo quando nossos meios, modos ou maneiras
diferirem por completo dos praticados por nosso parceiro, os fatos que acabamos
de expor deverão ser lembrados. Enquanto
cada um tiver a liberdade para ser “ele mesmo”, enquanto os dois estiverem
sendo “eles mesmos” em união consciente
com Deus, o casamento será uma relação indissolúvel, assim na terra como é
no céu.
Joel S. Goldsmith
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