Quem é Você? (2) - Papaji (H. W. L. Poonja)

O Que Você Está Buscando é Quem Está Buscando

Jeff Greenwald: Papaji, eu sou vizinho de uma oficina de reparo de automóveis, próximo de sua casa. Algumas vezes eu sinto que meu único impedimento ao progresso espiritual é o martelar dos mecânicos. Como podemos permanecer quietos quando os sentidos bebem continuamente do meio ambiente? Contudo, aquele é o trabalho deles.

Papaji: Quando uma criança está aprendendo a caminhar, seus pais lhe dão ferramentas auxiliares. Quando ela cresce e aprende a caminhar, ela joga as ferramentas fora. Portanto no início você sente que é perturbado por ruídos quando medita, mude-se de vizinhança. Eu te aconselho a investigar a vizinhança quando você busca uma casa ou um ambiente para viver. Ela está cheia de lixo, de pessoas barulhentas, tem um mercado de peixes, um supermercado? Você deve evitar essas coisas no início. Você pode ir à floresta para meditar. Uma vez que você tenha aprendido a meditar você pode meditar no meio de um mercado de peixes, ou em Shalimar Crossing ou Hasrat Ganj. Uma vez que você tornou-se mestre na arte da meditação você não ouvirá ruídos. Você não ouvirá nada. Uma vez que você esteja verdadeiramente meditando você estará no mesmo estado de quando está profundamente adormecido. Porém você estará ao mesmo tempo acordado. Isso é chamado de dormir acordado. Enquanto você não aprende isso é melhor evitar vizinhanças desarmônicas. Investigue a vizinhança. Ela é mais importante até do que o apartamento. Encontre pessoas para viver junto que compartilhem do mesmo modo de vida. Professores gostam de estar com professores, filósofos com filósofos, trabalhadores com trabalhadores. Mas uma vez que você aprendeu a arte da meditação, você pode fazer o que quer que você goste, onde quer que você goste.

J: O que é meditação para você? Muitos tipos de meditação são praticados. Muitos se baseiam na observação de fenômenos tais como a respiração, ou a entrada e saída dos pensamentos.

P: Você não está falando de meditação, mas de concentração. Meditação só acontece quando você não está se concentrando em nenhum objeto. Se você é capaz de não trazer qualquer objeto do passado para dentro da mente, então isso é chamado de meditação. Não use sua mente, isso é chamado de meditação. Se você usa sua mente para meditar então isso não é meditação, mas concentração. A mente pode somente agarrar-se a objetos do passado. Foi-lhe dito para meditar sem a mente?

J: Isso é difícil de responder. Muitas das meditações que eu fiz lidam com a observação dos pensamentos que surgem. Mas o objetivo parecia ser um estado sem pensamento, onde nenhum pensamento surge.

P: Sim. Isso é meditação. Quando nenhum pensamento surge é chamado de meditação. Mas pensamentos surgem inevitavelmente.

J: Como lidar com os pensamentos que surgem?

P: Eu lhe direi como lidar com eles. Acho que você precisa dedicar um tempo a isso, menor que um estalar de dedos. Esse é todo o tempo de que preciso para parar seus pensamentos. O que é um pensamento? O que é a mente? Não há nenhuma diferença entre pensamento e mente. O pensamento surge da mente e a mente é um aglomerado de pensamentos. Sem pensamentos não há mente. O que é a mente? "eu" é mente. Mente é passado. É apegar-se ao passado, presente e futuro. É apegar-se ao tempo, aos objetos. Isso é chamado de mente. Agora, de onde a mente surge? Quando o "eu" surge, a mente surge, os sentidos surgem, o mundo surge. Agora, descubra de onde o "eu" surge e depois me diga se você não está quieto. Vai, comente sobre o que está acontecendo a você agora enquanto faz isso.

J: Eu estou escutando-o falar.

P: Depois disso. Nós estávamos falando que a mente é "eu" e que a mente surge do "eu". Quando o eu surge a mente surge. Isso é o que acontece na transição entre o sono e o despertar. Agora, descubra aquele reservatório de onde o "eu" surge.

J: De onde o "eu" surge? Ele é um substantivo?

P: Espere, espere. Você não acompanha. Vou repetir de novo. Se há um canal que sai de um reservatório, você pode segui-lo até o ponto onde ele sai do reservatório. Eu estou dizendo: siga o pensamento "eu" da mesma forma. De onde ele surge? Eu lhe direi como fazer isso. Como encontrar a resposta. Você não tem que boxear como Mohamed Ali para isso. É muito simples. Conhecer a si mesmo é tão simples como tocar uma pétala de rosa. Esse conhecimento, essa realização é tão simples como uma pétala de rosa em seus dedos. Não tem nada de difícil. A dificuldade começa quando você se esforça. Portanto você não precisa fazer qualquer esforço para ir aquele reservatório o qual é a fonte do "eu". Não faça esforço e também não pense. Rejeite o esforço e rejeite o pensamento. Quando digo rejeite o pensamento, estou dizendo para rejeitar o pensamento "eu" e qualquer tipo de esforço. Parece com um foguete que roça a atmosfera. Ele brilha rapidamente e depois volta a desaparecer no espaço.

J: É como uma faísca repentina seguida de novo pela escuridão do "eu".

P: Não de novo. Por que com o "de novo" você tem de voltar ao passado. "De novo" é passado. Estou lhe dizendo para se livrar desse "eu". Não faça esforço e também não pense nem mesmo por um único segundo. Até mesmo por meio segundo ou um quarto de segundo é o bastante. Meu caro e jovem Jeff, você não gastou todo esse tempo em você mesmo nos últimos trinta e cinco milhões de anos! Aqui e agora é o momento de fazer isso.

J: Acho impossível não fazer um esforço. Há sempre um tentar. Há uma expectativa, um senso de "tentar" sempre.

P: Todo esse fazer lhe oi ensinado por seus pais, pelos padres e por seus professores, por seus pregadores. Agora, fique quieto por um quarto de segundo e veja o que acontece. O fazer foi herdado de seus pais. "Faça isso, faça aquilo". Você foi aos padres e eles lhe disseram "faça isso! Não faça aquilo". Depois você ouviu isso da sociedade e de todo o mundo. Estou lhe dizendo para se livrar do fazer e do não fazer. Quando você indulge em fazer está de volta ao mundo de seus pais. Você aprendeu o fazer primeiramente de sua mãe. Se você não pegasse direito sua colher ou garfo, ela lhe batia dizendo: "não faça isso". Fazeres e não fazeres vieram primeiro de sua mãe. Depois do padre: "você tem de ir a uma igreja em particular. Não vá à igreja de outra pessoa. Se você fizer assim, você irá para o paraíso. Se não fizer irá para o inferno. Você será um pecador".

Eu lhe digo, livre-se de ambos, fazeres e não fazeres. Pelo menos prove disso. Você já provou do fazer. Há seis bilhões de pessoas no mundo e todas estão provando do fazer. Diga-me, qual é o resultado de todo esse fazer? Recentemente vimos o resultado do fazer no Golfo. Também vimos três guerras. O resultado é o ódio entre os homens e um monte de morte. Ao invés disso vamos ver o que pode advir do não fazer. Não fazendo haverá amor, não ódio. Deixe esse amor florescer de novo como no tempo de Budda e Ashoka.

J: Papaji, agora que eu o estou te chamando de Papaji, estou colocando-o em um papel de pai. Isso soa um pouco estranho.

P: Esse pai está lhe dizendo: Não faça qualquer esforço. Ouça esse Papaji, pelo menos uma de suas palavras. Se você não escutar a esse Papaji, você terá muitos outros Papajis nos próximos 35 milhões de anos!

J: Eu sou um escritor e acho muito natural escrever. Pessoas vêm a mim e pedem conselhos sobre escrever e eu lhes respondo: faça isso de forma natural. Simplesmente escreva do jeito que você fala. Não há nada mais fácil. Mas eles não conseguem. Eles precisam fazer algum esforço.

Papaji, você despertou de forma espontânea e de uma forma completamente natural com a idade de oito anos. Porque você está tão confiante de que será tão fácil e tão natural para os outros? Passamos 35 milhões de anos tentando com muito pouco sucesso.

P: Eu também devo ter gastado o mesmo tempo. Eu sei disso porque me lembro de muitas das minhas vidas passadas. Budda também disse que ele passou muitas, muitas encarnações tentando acordar. Ele também as conhecia muito bem. Ele se lembrava claramente de um erro cometido a 253 encarnações atrás. Ele também tinha estado fazendo e fazendo. Você me fez uma pergunta direta. Eu não sei o que causou meu despertar. Tudo foi muito espontâneo, eu não tinha nenhum embasamento. Eu não fazia nenhuma meditação. Eu não tinha lido um único livro sobre iluminação. Eu estava no Paquistão. Então esses livros não estavam disponíveis. Na maioria das vezes eles são escritos em Sânscrito e eu não tinha estudado Sânscrito. Eu tinha estudado apenas o Persa. Isso veio para mim, mas como, eu não sei. Talvez ele tenha me escolhido. A Verdade revela-se para uma pessoa sagrada. Eu não tinha qualquer qualificação. Eu ainda não era educado. Eu tinha apenas oito anos de idade, estudando no segundo ano. O que eu vi então, eu continuo vendo. O que é isso? O que é isso? O que é isso? Eu estou mais e mais apaixonado por isso a cada momento que passa.

J: Toda a minha vida eu me perguntei como teria sido viver no tempo de Budda e ter se sentado a seus pés. Aqui, sentado com você, eu sinto que sei a resposta para aquela pergunta.

P: você esteve com ele. Você deve ter estado com ele. De outro modo você não teria feito essas perguntas, você nunca teria vindo aqui. Que tal as outras pessoas, os outros seis bilhões de pessoas? Por que eles não vêm ao Satsang? Que tal seus vizinhos, que tal seus pais, que tal sua sociedade? Por que só você? Você foi escolhido, você foi escolhido para esse propósito. Quando você sabe, você saberá em um instante. Você saberá que nada nunca aconteceu antes e que nada acontecerá no futuro. Em um momento você pensava que estivesse aprisionado. Naquele mesmo momento você descobrirá que está livre. Naquele instante de despertar você saberá que não existe nenhuma prisão e nenhuma liberdade. Você saberá "eu sou o que sou".

J: Papa, a mente pode auxiliar no processo de realizar a liberdade?

P: Sim. Ela pode. A mente é sua inimiga e sua amiga. Quando fixada em sentir os objetos ele é sua inimiga. Mas quando ela aspira a vir a Satsang a mesma mente é sua amiga. Ela lhe dará liberdade.

Isso é um grande alívio por alguma razão. Quando falamos em realizar a liberdade, quem está realizando a liberdade? Esse "quem" ele mesmo está realizando a liberdade. O quem que está fazendo a pergunta é o mesmo quem que sente que este quem está aprisionado. Após ter conhecido isso, "quem" mostrará sua unicidade. "Olhe aqui, Jeff, ele dirá, eu sou o mesmo 'quem' que te trouxe aqui!".

J: Foi São Francisco que disse: "o que você está buscando é quem está buscando".

P: Sim. Sim. Quando você diz simplesmente "Quem?", q-u-e-m, onde você o encontra? Diga-me. Onde? Você terá de somar algo. Somente então a resposta virá. Quem é você? Se você diz apenas "quem", quem, então aparecerá para você? Simplesmente diga: "quem? Quem? Quem?".

J: Eu vou começar a soar como uma coruja em um instante. Você diz que a mesma força que nos trouxe aqui cuidará de nós. Que força é essa?

P: A força que trouxe você aqui, a força que está falando suas palavras, a força que está fazendo as perguntas, são todas a mesma força. A força agora tornou-se o questionador. A mesma força está perguntando agora. E essa mesma força está lhe respondendo: "Fique quieto!".

J: (balançando a cabeça) Depois de você, Papaji, eu não poderia entrevistar mais ninguém.

Papaji (H. W. L. Poonja)

Fonte: http://clarover.blogspot.com/

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