Acordar Espiritualmente (2) - Joan Tollifson


Consciência é o que permanece quando tudo que é perceptível e conceituável desaba

Em face do sofrimento, o que verdadeiramente libera é a consciência, o ver através da cobertura conceitual ("isso é insuportável", "isso não podia acontecer", "tudo é vontade de deus", "isso tudo é um sonho", "eu sou uma pessoa terrível", "aquelas pessoas lá são o eixo do mal", "tudo está perfeito assim como é", ou QUALQUER OUTRO PENSAMENTO QUE O CEREBRO PRODUZA). Quando esta camada conceitual está ausente ou transparente, há simplesmente a pura atualidade do que é. Presente consciência, aberta, sem saber o que tudo significa, sem buscar por resultado, não tomando nada como pessoal. E se o filme começa a passar no qual "você" está tentando duramente fazer "certo", "estar aberto e consciente todo o tempo", então note que isso é ainda uma outra camada conceitual, um outro filme, uma outra aparência. Só existe o agora, somente o que é. Nuvens aparecem, fechamentos surgem. Dor surge. Mudança de direção surge. Filmes mentais surgem. Tudo é parte do fluxo de manifestação. O que é que mantém tudo isso? Há uma "espaciedade", uma "ilimitalidade" que inclui absolutamente tudo, até mesmo o assim chamado fechamento, distração e resistência, até mesmo o assim chamado "demoníaco"?

Em ultima analise, o universo é um sonho, uma borbulha na correnteza. Limpe sua fronte e você terá assassinado bilhões de microorganismos. Eventos terríveis e desgraças são amiúde, a fonte de tremenda sabedoria, insight, compaixão. Amor e despertar. Luz e escuridão são ambas extremidades de um mesmo bastão, e não há extremidade de bastão de ninguém. Ver isso cria mais aceitação da vida como ela é. Mas essa aceitação não significa afastamento ou um coração fechado, pois cada novo botão aberto de flor é totalmente único e precioso, assim como cada ser humano. Quando nós realmente vemos uma flor, ou uma formiga, ou um pássaro, ou um ser humano, nós os amamos. Nós cuidamos deles. Se olharmos mais de perto, podemos até mesmo descobrir que é possível amar um assassino em série ou um molestador de crianças ou mesmo a nós mesmos com todas as nossas aparentes falhas e imperfeições.

Consciência por natureza aceita absolutamente tudo. O que quer que apareça - seja isso confusão, resistência, dor, prazer, esforço, benção, tédio, estórias pessoais, céu-azul ou tempestades - tudo é permitido estar aqui. Consciência é como um espelho que reflete tudo igualmente sem julgamento ou preferências. Não é que "você" tenha que "fazer" essa aceitação. Ao invés disso, tudo já tem permissão para ser como é, mesmo os julgamentos e preferências. Tudo é! Talvez esse seja o real significado de amor incondicional.

Há algum limite para a consciência presente? Agora, se você fechar seus olhos e prestar atenção cuidadosa, você pode de fato encontrar um lugar onde "dentro" termina e "fora" começa? Quão sólido é o que você pensa como "seu corpo?" A fronteira aparente entre "você" "tudo o mais" realmente existe ou ela é de fato não mais que uma ideia, uma imagem mental, um rio de sensações em constante mudança, uma estória aparecendo na consciência?

Se você está pensando que consciência é de fato uma "coisa" (um tipo de coisa grande e branca ou um contêiner gigante vazio ou um espelho), note que essas são apenas imagens mentais, ideias conceituais, objetos sutis imaginários. Consciência é o que permanece quando tudo que é perceptível e conceituável desaba. Você está tentando ver o que é isso? Você pode ver a piada em tentar fazer isso?

Não pense que todo o perceptível e concebível tem que desaparecer (como poderia?). Mas quão sólido é todo o perceptível ou concebível (uma imagem, uma ideia, qualquer memória, toda sensação, todo pensamento. Toda emoção, todo evento, todo objeto, toda experiência)? Onde está sua infância ou o ontem ou um minuto atrás ou o último segundo? De perto, tudo é insubstancial, impalpável, evanescente. A mente tenta pegar. Ela quer respostas certas, um lugar para se firmar. O que é tudo isso? A mente quer entender o todo. O pensamento imagina que você pode ficar de fora e olhar pra isso. Mas não importa quão duramente ela tente, o olho não pode ver a si mesmo. A não-limitação do que é não tem limites. A Realidade é inatingível e inescapável. Toda experiência vem e vai. Não tem nada a ver com ter uma experiência especial. A ilimitalidade (consciência, presença, obviedade, não-coisidade) não é uma coisa; ela não é uma experiência em particular que você possa ter.

O acordar não diz respeito à aquisição de visões psicodélicas ou a posse de sensação oceânica constante. Ela tem a ver simplesmente com o notar que tudo (filme mental, sonhos, percepções, pensamentos, vida acordada, miragens, a ilusão-Eu, a dualidade aparente, tempo e espaço, cadeiras, mesas, expansões, contrações, meditação, retiro, engarrafamento, tudo) é sem substância ou continuidade, e todos aparecem e desaparecem bem aqui. Aqui é sempre aqui. É sempre agora. Até mesmo as memórias do passado, as fantasias sobre o futuro e os pensamentos sobre outros lugares somente podem aparecer aqui e agora, na ilimitada, intemporal e não coisificada consciência presente. Isso é tudo o que há.

Acordar não se trata nunca de adquirir algo que não está aqui e agora. Assim, o que é aqui e agora?

A mente está buscando uma resposta (outra palavra?). Se todas as palavras e ideias fossem abandonadas o que permaneceria?

A mente está buscando uma experiência, uma percepção especial? Se tudo isso for abandonado o que restaria?

Não existe resposta. Há somente isto. Não a palavra, mas a atualidade impalpável.

Joan Tollifson

Fonte: http://frangrossi.wordpress.com/2008/06/08/acordar-espiritualmente/




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