Acordar Espiritualmente - Joan Tollifson


A vida está simplesmente vivendo a si mesma através da aparência de “você” e “eu”

O segredo da vida e da liberação está escondido bem em frente aos nossos olhos com visibilidade plena. Ele é a presente consciência (não a palavra ou o conceito, mas a atualidade), acordada para o que é: os pratos do desjejum, a roupa para lavar, a luz do sol nas folhas, o latido do cão, o som do tráfego, o zumbido do computador, o gosto do chá, a respiração.

Assim o pensamento: "Deve haver mais na vida do que isso". O pensamento cria problemas imaginários e tenta resolvê-los. O complexo cérebro humano tem uma habilidade assustadora de conceituar, imaginar, lembrar, projetar e pensar sobre coisas que não tem realidade atual.

À medida que "você" lê essas palavras nesse momento, pequenas marcas aparecendo sobre essa página em varias combinações, estão sendo vistas e traduzidas em significado. Há alguém fazendo essa admirável atividade, supervisionando todos esses elaborados processos óticos e neurológicos, ou tudo está ocorrendo automaticamente, por si mesmo? Nós dizemos, "eu" estou lendo, "eu" estou vendo, "eu" estou ouvindo, "eu" estou pensando, "eu" parei de fumar, "eu" odeio. Mas o que exatamente é esse "eu"? Você realmente sabe (ou controla) o que será "seu" próximo pensamento ou sua próxima ação?

Bem aqui, há a habilidade de colocar a atenção em seu pé esquerdo e encolher seus dedões. Mas como tudo isso de fato acontece e o que o inicia? Uma vez que a mente tenta capturar esse acontecimento em palavras, ele instantaneamente cria ilusão e confusão: a miragem da dualidade. De repente estamos aparentemente perdidos em problemas imaginários e CONUNDRUMS: existe uma pessoa aqui ou não? Existe livre arbítrio? O que eu deveria fazer? Eu posso fazer alguma coisa?

Tudo isso é pensamento. Mas a atualidade é simples. Ela é indivisível. Aqui, não há nenhuma confusão, nenhuma barreira, nenhum problema, nenhum livre arbítrio, nenhuma ausência de livre arbítrio. Você simplesmente está fazendo o que você esta fazendo. Você esta sempre fazendo algo, mesmo se o que você estiver fazendo for ficar sentado imóvel "fazendo nada". E de fato, não há nenhum você fazendo nada disso. Esse "você" é um pós-pensamento, uma imagem mental, uma convenção gramatical, uma reificação de algo que verdadeiramente não é nada. De fato, a vida está simplesmente vivendo a si mesma através da aparência de "você" e "eu". Vendo isso verdadeiramente, elimina toda culpa assumida ou imposta.

Dadas as combinações erradas de genética, neuroquímica, condicionamento, provocação e oportunidade, o que nós consideramos coisas horríveis, podem acontecer. "Eu" poderia ser o perpetrador de tais coisas, ou "você" poderia ser. E mesmo que quase com certeza eu fosse querer que assassinos em série ou um molestador de crianças fossem mantidos presos para segurança de todos e poderia mesmo sentir raiva deles, ainda assim, se eu olhasse com profundidade, eu veria que eles não são culpados. Ninguém cometeria atrocidades se realmente tivesse a capacidade de escolha, se fosse realmente livre. Olhando de perto, eu veria que se "eu" estivesse em "seus sapatos" (se eu estivesse em seus lugares, ou seja, com a mesma combinação de genética, neuroquímica, condicionamento, provocação e oportunidade) então "eu" faria exatamente a mesma coisa que "eles" fizeram, por que não há nenhum "eu" e nenhum "eles" separado dos "sapatos" (as dez milhões de condições).

Isso significa que somos impotentes para fazer o que quer que seja, e que deveríamos simplesmente nos sentar e "deixar acontecer" por que "ninguém está fazendo nada disso?" Não.

Significa que este organismo corpo-mente responderá a qualquer situação dada, não importa qual seja, e qualquer pensamento do tipo "eu estou no controle dessa resposta (ou sem o controle dela) é uma ilusão porque não existe tal "eu" separado". Da perspectiva do "eu" imaginário, isso soa assustador, uma receita de colapso moral e de falta de sentido - mas somente porque ainda perdura essa ideia de que "eu" sou de fato separado, e de que se "eu" não controlar o universo, ele certamente será um desastre.

Quando a separação ilusória é vista como a miragem que é, fica simplesmente uma consciência presente indivisível. O Aqui, por si só, é a responsabilidade (resposta-habilidade) e a inteligência natural que podemos chamar de sabedoria e amor, o acordar de todos os conflitos imaginários, o esforço sem esforço que é exercido por si mesmo: respiração, circulação sanguínea, sonho e despertar. Isso não significa que não há nenhum poder ou habilidade de resposta ou nada para ser feito. Significa que a fonte de tudo isso não é o que pensamos que seja. Portanto, um pensamento tal qual "eu vou parar de fumar" surge por si mesmo a partir das dez milhões de condições e pode ou não ser seguido pela ausência do ato de fumar.

Quando a miragem da separação não é vista pelo que é, ações surgem de um tipo de transe hipnótico e produzem tipicamente o que nós chamamos de sofrimento. Naturalmente, uma vez visto, o desejo surge para estar desperto todo o tempo. "Eu" quero ser uma pessoa iluminada, alguém que está presente e desperto e que vê com clareza "todo o tempo." Mas nesse próprio impulso, a miragem reafirmou a si mesma, pois mais uma vez é a ilusória tentativa individual de dirigir o universo e ter somente altos sem baixos, todos num futuro imaginário. Inevitavelmente, o resultado é a desilusão.

Tem sido sabiamente dito que essa tal iluminação não é vitória final porem derrota final. Iluminação é estar totalmente sem esperança. A mente ouve isso e pinta um estado de ser desesperado e niilista. Mas esse é o caso somente quando se tem esperança. Iluminação é vista para além de toda esperança de algo melhor. Ela é a simplicidade do que é, como de fato é, a pura facticidade do presente momento, aqui e agora.

Liberação não tem nada a ver com adquirir um novo sistema de crenças ou um novo pacote de respostas (por exemplo, "tudo é Um", "consciência é tudo o que há", ou "não existe nenhum livre-arbítrio", ou "você cria sua própria realidade" ou ainda "tudo está perfeito"). Liberação é a vivacidade e imediacidade além da crença. Liberação é quando todas as respostas, explanações e posições desaparecem e o que permanece é a mente aberta, o não-saber.

É impressionantemente fácil para o fundamentalismo sorrateiramente entrar e tomar posse. Nosso desejo humano de certeza e conforto corre profundamente até mesmo naqueles de nós que parecem estar comunicando e explorando algo tão radicalmente simples. Ver a ilusão não é algo que acontece uma vez em um grande flash e tudo está feito. Ela é um acordar para toda a vida (momento presente).

Joan Tollifson

Fonte: http://frangrossi.wordpress.com/2008/06/08/acordar-espiritualmente





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