Homem - G. I. Gurdjieff

Condicionamento Coletivo

Um homem vem ao mundo como uma folha de papel em branco, que, imediatamente, todos em torno dele começam a competir uns com os outros para sujar e enchê-la com educação, moralidade, com informação a qual chamamos "conhecimento", e com todos os tipos de ideias sobre deveres, honra, consciência, e assim por diante. E cada um afirma imutabilidade e infalibilidade aos métodos que utilizam para enxertar esses ramos ao tronco principal, chamado de "personalidade" do homem. A folha de papel progressivamente torna-se suja, e quanto mais suja se torna, isto é, quanto mais um homem é recheado com informações efêmeras e noções de dever, honra, e assim por diante, que são empurradas para dentro dele ou sugeridas a ele pelos outros, mais "inteligente" e valoroso ele é considerado por aqueles à sua volta.

E, vendo que as pessoas olham sua sujeira como mérito, ele inevitavelmente passa a olhar a folha suja de papel sob a mesma luz. E então você tem um modelo daquilo a que chamamos de um "homem", a quem tais palavras como "talentoso" e "gênio" são frequentemente aplicadas. E o temperamento do nosso "gênio" quando ele acorda de manhã é estragado por todo o dia, se ele não encontrar os seus chinelos ao lado da cama.

O homem comum não é livre em sua vida, em suas manifestações, ou em seu humor. Ele não pode ser o que gostaria de ser, e aquilo que ele se considera ser; ele não é aquele "Homem", que soa poderoso! O próprio nome "homem" significa - o "apogeu da criação", mas como é que esse título se aplica ao homem contemporâneo?

E ainda, o homem deveria realmente ser o apogeu da criação, uma vez que ele é formado e tem em si mesmo todas as possibilidades de aquisição de dados exatamente semelhantes àqueles do Concretizador de tudo o que existe no Universo. Para ter o direito ao nome de homem, devemos ser um. E para ser um homem, deve-se primeiro de tudo, com uma incansável persistência e um insaciável impulso de desejo proveniente de todas as distintas partes independentes que constituem sua inteira presença comum, ou seja, com um desejo vindo simultaneamente do pensamento, do sentimento e do instinto orgânico, trabalhar baseado num conhecimento de si mesmo total e abrangente, ao mesmo tempo lutando incessantemente contra suas fraquezas subjetivas, e em seguida, apoiando-se sobre os resultados obtidos pela consciência apenas no que diz respeito aos defeitos na sua subjetividade estabelecida, bem como os meios para a possibilidade de combatê-los; lutar pela sua erradicação sem misericórdia para com si próprio.

Falando francamente, o homem contemporâneo como podemos conhecê-lo, se formos capazes de imparcialidade, não é nada mais do que um mecanismo de relógio, apesar de ser uma construção muito complexa.

Um homem deve, sem falta, pensar profundamente sobre cada aspecto de sua mecanicidade e compreendê-la minuciosamente, a fim de apreciar plenamente o significado dessa mecanicidade e todas as consequências e resultados que ela implica, tanto para sua própria vida e para a justificação do sentido e objetivo de seu surgimento e de sua existência.

G. I. Gurdjieff

Fonte: http://ricardo-yoga.blogspot.com/

Observação

O filósofo Spinoza também nega que o homem seja inteiramente livre, porque a liberdade tem haver com consciência. Logo, como nenhum homem é plenamente consciente (provisoriamente), nenhum homem pode ser plenamente livre. Portanto, o homem é parcialmente livre, porque é parcialmente consciente. Contudo essencialmente o homem é livre, diz ele.

O esforço ensinado por G. I. Gurdjieff foi também um método utilizado também pelos padres do deserto (Philokalia). Eu particularmente não obtive sucesso com tais métodos. Porém obtive algum sucesso através apenas da compreensão da verdade interior. Exemplos:

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"Já não queremos excomungar e extirpar os desejos; o único objetivo que nos domina por completo é o de sempre conhecer tanto quanto for possível".

"Quem deseja seriamente se tornar livre perderá a inclinação para erros e vícios, sem que nada o obrigue a isso; também a raiva e o desgosto o assaltarão cada vez menos. Pois sua vontade não deseja nada mais instantemente do que o conhecimento e o meio de alcançá-lo, ou seja: a condição duradoura em que ele está mais apto para conhecer" (Nietzsche - "Humano, Demasiado Humano").

Em outras palavras:

"Ao tentarmos dominar a sensualidade, o desejo falso, a gula; ao fazer esforço para nos livrarmos dos traços humanos errôneos, descobrimos que eles se multiplicam muito e muito. Não tente, por um ato de vontade, eliminar esses erros, não se condene por qualquer traço falso ou negativo que você possa ter; não se atormente. Fique satisfeito ao vê-los se dissipar em sua percepção constante do Eu que eu sou. Não tente se livrar de qualidades negativas; não tente se livrar de qualidades ou traços humanos maus. Fique satisfeito ao vê-los se desfazer e desaparecer de sua própria inexistência, à medida que você reside sob a proteção do Altíssimo, à medida que você reside na consciência do Eu que eu sou".

"Quanto mais você aprende a se identificar com o Eu que eu sou, em vez de se identificar com o corpo e com a experiência humana, mais qualidades espirituais se manifestarão em sua experiência. Se eu tivesse que tentar ser um ser humano muito bom, fracassaria. Mas, se tentar esquecer meu aspecto humano e residir no Eu que eu sou e perceber que o Eu é Deus, então, Ele Se manifestará no corpo, nos pensamentos e nas ações que se originarem" (Joel S. Goldsmith - "As Palavras do Mestre").

"Quando a Consciência toma conta, Ela elimina todos os traços ou desejos errôneos que possamos ter e o faz à Sua própria maneira e em Seu próprio tempo. Se nós próprios tentarmos eliminá-los, estaremos sendo apenas farisaicos. Isto não quer dizer que nada devemos fazer. Devemos fazer esforço para compreender o que é Consciência, mas esse esforço não envolve o uso de saco e cinza" (Joel S. Goldsmith - "Viver Agora").

"É Possível ter os prazeres do mundo e se alegrar com eles, ou não tê-los e não lhes sentir a falta. O que passa a existir é uma alegria interior que não precisa de estímulos externos" (Joel S. Goldsmith - "O Caminho Infinito").

"Eu mesmo encontro prazer em muitas das coisas bonitas e desfrutáveis deste mundo, mas já não existe mais um apego exagerado por elas" (Joel S. Goldsmith - "A União Consciente com Deus").

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"Pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie" (Efésios, 2:8 e 9).

Edmilson S. Jesus

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