Do livro “Eu Sou Aquilo” (continuação) - Nisargadatta

A Pessoa é o Resultado de Um Mal Entendido

Realize que o que você pensa ser si mesmo é simplesmente uma cadeia de eventos; que enquanto tudo acontece, vem e vai, você sozinho é, o imutável entre o mutável, o auto-evidente entre o inferido. Separe o observado do observador e abandone as falsas identificações.

A sucessão de momentos transientes cria a ilusão de tempo, mas a realidade imutável de puro ser não está em movimento, pois todo movimento requer um fundo imóvel. Ele é por si mesmo o fundo. Uma vez encontrado dentro de você mesmo, você sabe que você nunca perdeu aquele ser independente.

O que muda não é real, o que é real não muda. Agora, o que é isto em você que não muda? Na medida em que haja comida, há corpo e mente.

Quando a comida é retirada, o corpo morre e a mente dissolve. Mas o observador perece? Isso é uma questão de experiência vivencial de que o eu, o self é independente da mente e do corpo. Isto é ser-consciência, benção.

Consciência de ser é benção. Você deve realizar a si mesmo como o imóvel por trás e além do móvel, a testemunha silenciosa de tudo que acontece.

A pessoa nunca é o sujeito. Você pode ver a pessoa, mas você não é a pessoa.

O seu ser como uma pessoa é decorrente da ilusão de espaço e tempo; Você imagina a si mesmo como existindo em um certo ponto ocupando um certo volume; sua personalidade é decorrente de sua auto identificação com o corpo.

Como a personalidade vem a ser? Identificando o presente com o passado e projetando-o no futuro.

O corpo-mente é como um quarto. Ele está lá, mas eu não preciso viver dentro dele todo o tempo. A pessoa é meramente o resultado de um mal entendido. Na realidade, não há tal coisa.

Sentimentos, pensamentos e ações correm diante do expectador em infinita sucessão, deixando traços no cérebro e criando uma ilusão de continuidade. Uma reflexão do expectador na mente cria o senso de "eu" e a pessoa adquire uma aparente existência independente. Na realidade não há nenhuma pessoa, somente o observador identificando-se com o "eu" e o "meu".

É porque "eu sou" é falso que ele quer continuar. A realidade não necessita continuar-sabendo-se indestrutível, ela é indiferente de formas e expressões. Para fortalecer e estabilizar o "Eu sou", nós fazemos todo tipo de coisas - todas em vão, pois o "eu sou" está sendo reconstruído de momento a momento. É um trabalho incessante, e a única solução radical é dissolver o senso separador "eu sou" tal ou qual "pessoa". Não é o "eu sou" que é falso, mas o que você toma como sendo você. Eu posso ver, além de qualquer sombra de dúvida, que você não é o que você acredita ser.

O que é realmente seu, você não está consciente. Aquilo do qual você está consciente não é nem você nem seu. Seu é o poder da percepção, não o que você percebe. É um engano tomar o consciente como sendo o homem inteiro. O homem é o inconsciente, o consciente e o superconsciente, mas você não é o homem. Seu é a tela do cinema, a luz, e o poder de ver, mas o filme não é você.

Como é minha presença, a qual está sempre aqui e agora, que dá qualidade de realidade a qualquer evento, eu devo estar além do tempo e espaço. E nunca nasci, nem jamais morrerei.

Tome a ideia "Eu nasci". Você pode tomá-la como sendo verdadeira.

Ela não é. Você não nasceu, nem jamais morrerá. É a ideia que nasceu e morrerá, não você. Ao identificar-se com ela você se tornou mortal. Seu engano está em sua crença de que você nasceu. Você nunca nasceu e jamais morrerá.

Entre o relembrado, e o real, o atual, há uma diferença básica a qual pode ser observada de momento a momento. Em nenhum ponto do tempo o atual é relembrado. Entre os dois há uma diferença em tipo, não meramente em intensidade. O atual é inconfundivelmente tal. Por nenhum esforço de vontade ou imaginação você pode intercambiar os dois. Agora, o que é isso que dá ao atual essa qualidade única? Um momento atrás, o relembrado era atual, em um momento o atual será o relembrado. O que faz o atual único? Obviamente, é o senso de estar presente. Na memória e antecipação, há um claro sentimento de que se trata de um estado mental sob observação, enquanto no atual o sentimento é primariamente de estar presente e alerta. Onde quer que vá, o senso de aqui e agora é levado contigo todo o tempo. Significa que você é independente de espaço e tempo, que espaço e tempo estão em você, não que você está neles. É sua identificação com o corpo, o qual, obviamente é limitado no tempo e espaço, que lhe dá o sentimento de finitude. Na realidade você é infinito e eterno.

Nisargadatta Maharaj

Fonte: http://metamorficus.blogspot.com/2009/07/eu-sou-aquilo.html

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