O estado livre de desejos: A mais elevada bênção - Nisargadatta (Continuação)

Tudo o Que Pode Ser Percebido é Transitório, Só o "Eu Sou" é Permanente

Pergunta: Eu me dedico ao estudo da filosofia, da sociologia e da educação. Creio que necessito mais desenvolvimento mental antes de poder sonhar com a auto-realização. Estou no caminho correto?

Maharaj: Para ganhar a vida é necessário algum conhecimento especializado. O conhecimento geral desenvolve a mente, não há dúvida. Mas, se vai passar toda a vida juntando conhecimento, você construirá um muro ao redor de si mesmo. Para ir além da mente, não será necessária uma mente bem preparada.

P: Então, o que será necessário?

M: Desconfiar de sua mente, e ir além.

P: O que encontrarei além da mente?

M: A experiência direta de ser, conhecer e amar.

P: Como se vai além da mente?

M: Há muitos pontos de partida, todos levam à mesma meta. Pode começar com um trabalho desinteressado, abandonando o fruto da ação; então poderá deixar de pensar e terminar abandonando todos os desejos. Abandonar (tyaga), neste caso, é o fator operativo. Ou você pode não se preocupar com nada do que queira ou pense, ou faça, permanecendo apenas no pensamento e sentimento "eu sou", enfocando o "eu sou" firmemente em sua mente. Todo tipo de experiências pode ocorrer então; permaneça inabalável, com o conhecimento de que tudo o que pode ser percebido é transitório, e que só o "eu sou" dura.

P: Eu não posso dedicar toda a minha vida a tais práticas. Tenho que atender as minhas obrigações.

M: Não deixe de atender as suas obrigações! A ação na qual não esteja emocionalmente implicado e que seja benéfica, e não cause sofrimento, não o limitará. Você pode ocupar-se em várias direções e trabalhar com enorme empenho, e permanecer interiormente livre e sereno, com a mente como um espelho que a tudo reflete sem ser afetada.

P: Tal estado é realizável?

M: Não falaria dele se assim não fosse. Por que haveria de ocupar-me com fantasias?

P: Todos citam as escrituras.

M: Aqueles que conhecem apenas as escrituras não conhecem nada. Conhecer é ser. Eu sei do que falo não por ter lido ou por ter ouvido.

P: Estou estudando sânscrito com um professor, mas realmente só estou lendo as escrituras. Eu busco a auto-realização, e vim obter a orientação necessária. Por favor, diga-me o que deverei fazer.

M: Já que leu as escrituras, por que pergunta?

P: As escrituras mostram as linhas gerais, mas o indivíduo necessita de instruções pessoais.

M: Seu próprio ser é seu ultimo mestre (sadguru). O mestre externo (Guru) é meramente um sinal no caminho. Só seu mestre interno caminhará com você até a meta, pois ele é a meta.

P: O mestre interior não é encontrado facilmente.

M: Já que está em você e com você, a dificuldade não pode ser séria. Olhe para dentro e o encontrará.

P: Quando olho para dentro, encontro sensações e percepções, pensamentos e sentimentos, desejos e medos, lembranças e expectativas. Estou imerso nesta nuvem e não vejo nada.

M: Este que vê tudo isto, e o nada também, é o mestre interior. Só ele é, todo o restante parece ser. Ele é seu próprio ser (swarupa), sua esperança e segurança de liberdade; encontre-o e una-se a ele, e estará a salvo e seguro.

P: Acredito, mas quando procuro este ser interior, vejo que me escapa.

M: A idéia "me escapa", onde surge?

P: Na mente.

M: E quem conhece a mente?

P: A testemunha da mente conhece a mente.

M: Veio alguém para dizer-lhe: "Eu sou a testemunha da mente"?

P: Claro que não. Seria apenas outra idéia na mente.

M: Então, quem é a testemunha?

P: Eu sou.

M: De modo que conhece a testemunha porque você é a testemunha. Não necessita ver a testemunha em sua frente. Aqui, de novo, ser é conhecer.

P: Sim, vejo que eu sou a testemunha, a própria Consciência. Mas, em que isso me beneficia?

M: Que pergunta! Que tipo de benefício você espera? Não é suficiente conhecer o que se é?

P: Qual a utilidade do autoconhecimento?

M: Ajuda-o a entender o que você não é e o libera de idéias, ações e desejos falsos.

P: Se apenas fosse a testemunha, que importaria o correto e o incorreto?

M: O que ajuda a conhecer a si mesmo é correto; o que o impede, é incorreto. Conhecer o ser real de si mesmo é uma bem-aventurança, esquecê-lo é dor.

P: É a consciência da testemunha o verdadeiro Ser?

M: É o reflexo do real na mente (buddhi). O real está além. A testemunha é a porta pela qual você vai além.

P: Qual o propósito da meditação?

M: Ver o falso como falso é meditação. Isto deve continuar todo o tempo.

P: Disseram-nos para que meditemos regularmente.

M: O exercício diário deliberado de discriminar entre o verdadeiro e o falso, e a renúncia do falso, é meditação. Há muitos tipos de meditação para começar, mas, finalmente, todos se fundem em um.

P: Diga-me, por favor, qual é o caminho mais curto para a auto-realização?

M: Nenhum caminho é curto ou longo, mas algumas pessoas são mais sérias que outras. Posso contar-lhe de mim mesmo. Eu era um homem simples, mas confiei no meu Guru. O que ele me disse para fazer, eu fiz. Disse-me que me concentrasse no "eu sou", e o fiz. Disse-me que estou além de tudo o que se pode perceber ou conceber-se, e eu acreditei nele. Dei-lhe meu coração e minha alma, toda minha atenção e todo o meu tempo disponível (tinha que trabalhar para manter minha família). Como resultado da fé e da dedicação sincera, realizei meu ser (swarupa) em três anos. Você pode escolher o caminho que lhe convenha; sua seriedade determinará o grau de progresso.

P: Nenhuma sugestão para mim?

M: Estabeleça-se firmemente na Consciência de "eu sou". Este é o princípio e também o fim de todo esforço.

Nisargadatta Maharaj

Fonte: http://busca-espiritual.blogspot.com/2009_10_01_archive.html




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