Sobre a Sublimação da Libido Sexual - Osho




Deixe-me contar primeiro um pouco de minha experiência e trajetória na busca de minha verdadeira Identidade interior. Nasci numa família católica; na adolescência tornei-me evangélico (daqueles fanáticos como sempre). Depois estudei o esoterismo, onde havia a prática da sublimação ou transmutação sexual. Por último, estudei uma filosofia oriental otimista, originária do japão, a qual abriu minha mente e deixou-me livre para ir adiante.

A filosofia da Seicho-No-Ie, foi meu estágio iniciático mental. Depois, com Joel S. Goldsmith, iniciei meu estágio iniciático realmente espiritual. Essa iniciação ficou ainda mais interessante, quando acessei as palestras dele, no Canal do YouTube, denominado "O Caminho Infinito em Português".

Conclusão, após a primeira repressão sexual (através das religiões dualistas), eu passei pela segunda repressão. Portanto, eu acho essa questão muito importante para esclarecer muitas dúvidas e reduzir a ignorância e o fanatismo religioso em torno do assunto.

Eu sempre quis escrever sobre o assunto, mas não encontrava palavras adequadas, até ler pela primeira vez, um livro do Osho, denominado: "Psicologia do Esotérico". Por isso, logo abaixo, eu vou utilizar somente as palavras dele, pois são suficientes para esclarecer definitivamente toda a confusão. 

Ele descreve toda a experiência real de quem já viveu na prática. Portanto, não se trata de crença ou teoria. Digo isso, com base em minha própria experiência. Essa rica psicologia precisa ser conhecida e divulgada no mundo inteiro, para amenizar o estrago que as religiões moralistas (dualistas, horizontais) fizeram e ainda fazem. Pois, não sabem o que dizem.

O leitor está livre para fazer o que quiser com este artigo. Pode divulgar da forma e maneira que achar melhor, em seu site, blog, etc.


Osho - Resumo:

A energia da vida é uma, mas ela pode manifestar-se em muitas direções. O sexo é uma delas. Quando a energia da vida torna-se biológica, torna-se energia sexual.

O sexo é apenas uma aplicação da energia da vida. Assim, não há a questão da sublimação.

Sexo é o fluxo natural, biológico, da energia da vida e a aplicação mais baixa dela. É natural porque a vida [orgânica] não pode existir sem ela, e a mais baixa porque é a fundação, a base, não o cume.

Não há necessidade de sublimação, porque a energia como tal, não é nem sexual, nem espiritual. A energia é sempre neutra. Em si mesma, ela é inominada. O nome não é o nome da energia em si; é o nome da forma que a energia toma. Quando você diz que a energia é sexual, significa que a energia flui através de uma saída sexual, através de uma saída biológica.

A energia em si é neutra. Quando é expressa biologicamente é sexo; expressa emocionalmente pode tornar-se amor, pode tornar-se ódio, pode tornar-se raiva; quando se expressa intelectualmente, pode tornar-se científica, pode tornar-se literária; quando se move pelo corpo, pode tornar-se física; quando se move pela mente, se transforma em mental. As diferenças não são diferenças da energia como tal, mas das manifestações aplicadas dela.

Assim, não é correto dizer: sublimação da energia sexual. Se a saída sexual, a saída do sexo não é usada, ela torna-se energia pura de novo. A energia é sempre pura. Quando se manifesta através da porta divina, torna-se espiritual, mas a forma é apenas uma manifestação da energia.

A palavra sublimação tem associações muito ruins. Todas as teorias de sublimação são teorias de repressão. Sempre que você diz sublimação do sexo, você se torna antagônico a ele. Sua condenação está lá, na própria palavra.

Você pergunta o que o indivíduo pode fazer com relação ao sexo. Qualquer coisa feita diretamente ao sexo é uma repressão. Há somente métodos indiretos com os quais você não se relaciona de forma alguma com a energia sexual, ao invés disto, você busca abrir a porta ao divino. Quando a porta ao divino se abre, todas as energias que estão em você começam a fluir em direção a essa porta. O sexo é absorvido. Sempre que um deleite mais alto torna-se possível, as formas mais baixas de prazer tornam-se irrelevantes. Você não deve reprimi-los ou lutar contra elas. Elas apenas murcham. O sexo não é sublimado; é transcendido.

Qualquer coisa feita negativamente com o sexo, não transformará a energia. Ao contrário, criará um conflito dentro de você que será destrutivo. Quando você luta contra uma energia, você luta contra você mesmo. Ninguém pode ganhar a luta. Num momento você sentirá que venceu. Isso acontecerá continuamente. Às vezes não haverá sexo e você sentirá que o controlou e no momento seguinte sentira o impulso do sexo de novo e tudo que você parecia ter ganhado será perdido. Ninguém pode vencer uma luta contra a sua própria energia.

Se as suas energias são necessárias em algum outro lugar, em algum lugar mais deleitoso, o sexo desaparecerá. Não que a energia esteja sublimada. Não que você tenha feito algo. Ao contrário, um novo caminho em direção a deleite maior abriu-se para você e automaticamente, espontaneamente, a energia começa a fluir em direção à nova porta.

Se você estiver segurando pedras e subitamente diamantes aparecerem no seu caminho, você nem sequer perceberá que jogou as pedras no chão. Elas cairão por elas mesmas, como se você nunca as houvesse possuído. Você nem mesmo se lembrará de haver renunciado a elas e de havê-las jogado fora. Você nem mesmo perceberá isso. Não que algo tenha sido sublimado. Uma fonte maior de felicidade abriu-se e as fontes inferiores caíram por si mesmas.

Isto é tão automático, tão espontâneo, que nenhuma ação positiva contra o sexo é necessária. Sempre que você faz algo contra qualquer energia, é negativo. A ação real e positiva não está nem mesmo conectada com o sexo, concerne à meditação. Você nem mesmo saberá que o sexo se foi. Ele foi simplesmente absorvido pelo novo.

Sublimação é uma palavra feia. Carrega um tom de antagonismo, de conflito nela. O sexo deveria ser encarado pelo que é. É apenas o alicerce biológico para a vida existir. Não lhe dê qualquer significado espiritual ou antiespiritual. Simplesmente entenda-o como o fato que é.

Não crie nenhuma filosofia em torno do sexo. Apenas veja os fatos. Não faça qualquer coisa a favor ou contra, deixe-o ser como é; aceite-o como normal. Não tome nenhuma atitude anormal em relação a ele.

Assim como você tem olhos e mãos, também você tem sexo. Você não é contra os seus olhos ou suas mãos. Não seja contra o sexo. Então, a questão do que fazer com relação ao sexo torna-se irrelevante. Criar uma dicotomia a favor ou contra o sexo é sem sentido. É um fato dado. Você veio à existência através do sexo. E você tem um programa esquematizado para novamente dar nascimento através do sexo. Você parte de uma grande continuidade. Seu corpo vai morrer. Ele tem um programa estabelecido para criar outro corpo para substituí-lo.

A morte é certa. Eis porque o sexo é tão obcecante. Você não estará aqui para sempre, assim você terá que substituí-lo por um corpo mais novo, uma réplica. O sexo é tão importante, porque toda a natureza insiste nele; caso contrário, não haveria ninguém na Terra. O sexo é tão obcecante, tão compulsivo, o impulso sexual é tão intenso, porque toda a natureza é a favor dele. Sem ele, a vida [orgânica] não pode existir.

A razão porque o sexo é tão importante para os buscadores religiosos, é porque ele é tão involuntário, tão compulsivo, tão natural. Tornou-se um critério para saber se a energia da vida numa dada pessoa alcançou o divino. Não podemos saber diretamente se alguém encontrou o divino - não podemos saber diretamente se alguém possui diamantes - mas podemos saber diretamente se alguém jogou fora as pedras, porque estamos familiarizados com as pedras. Podemos saber diretamente que alguém transcendeu ao sexo, porque estamos familiarizados com o sexo.

O sexo é tão compulsivo, tão involuntário, uma força tão grande, que não pode ser transcendido até que alguém tenha atingido o divino. Assim, bramacharya tornou-se um critério para saber se a pessoa alcançou o divino. Então o sexo, tal como existe nos seres normais, não existirá para ela.

Isto não significa que por abandonar o sexo, alguém atingirá o divino. O reverso é uma falácia. A pessoa que encontrou diamantes joga fora as pedras que estava carregando, mas o reverso disto não é verdadeiro. Você pode jogar fora as pedras, mas isto não significa que você tenha alcançado algo além delas.

Então você estará num meio-termo. Você terá uma mente reprimida, não uma mente transcendente. O sexo continuará a borbulhar dentro de você e criará um inferno interior. Isto não é ir além do sexo. Quando o sexo torna-se reprimido, torna-se feio, doentio, neurótico. Torna-se pervertido.

A assim chamada atitude religiosa com relação ao sexo criou uma sexualidade pervertida, uma cultura que é completamente neurótica sexualmente. Eu não sou a favor dela. Sexo é um fato biológico; não há nada errado nele. Assim, não o combata ou ele se tornará pervertido, e o sexo pervertido não é um passo para a frente. É uma queda para baixo da normalidade; é um passo em direção à insanidade. Quando a repressão torna-se tão intensa que você não pode prolongá-la, então ela explode - e nessa explosão, você se perderá.

Você é todas as qualidades humanas, você é todas as possibilidades. O normal fato do sexo é sadio, mas quando se torna anormalmente reprimido, torna-se insano. Você pode caminhar em direção ao divino desde o normal muito facilmente, mas caminhar para o divino desde uma mente neurótica torna-se árduo, e de certa forma, impossível. Primeiro você terá que se tornar sadio, normal; então, no final, há possibilidade do sexo ser transcendido.

Osho - (Psicologia do Esotérico - Ed. Ícone)


Veja se tudo isso não vai de encontro com tais versículos bíblicos (Efésios 2:8-9).



Conclusão

Não resista à realidade simples. Não queira saber intelectualmente mais do que a Vida e a Natureza. Enquanto isso, não pense que a transcendência do sexo acontece de uma hora para outra. Primeiro você precisa se libertar dos conceitos intelectuais opostos e contraditórios de pecado e santidade (sabedoria humana, demasiada humana). É necessário enxergar a realidade de forma simples e natural, sem maldades nem malícia da mente que mente (julgamento mental, preconceitos).

Não somente o sexo é transcendido, mas qualquer compulsão vai sendo reduzida aos poucos, mesmo sem pedirmos. Basta experimentar e sentir quem realmente somos interiormente (João 6:34-35). Só isso, sem nenhuma repressão nem pose de santo hipócrita. Naturalmente.

No entanto, transcender o sexo naturalmente não significa exatamente nunca mais utilizá-lo. Você poderá utilizá-lo ou não, porém sem a carência e compulsão anterior. Não há mais apego, nem sentimento de posse (dependência). O que equivale não mais utilizá-lo como outrora. É esse estado de liberdade e independência interior que conduz ao celibato verdadeiro e natural, sem esforço nem repressão sexual, conhecido como Brahmacharya.

É preciso manter a mente pura, assim como a energia da vida é pura por natureza. É preciso deixar a mente pura como sempre foi, antes dos conceitos intelectuais opostos de bem e mal, santidade e pecado, ao mesmo tempo (contradição). Antes da sabedoria humana, demasiada humana.

Com base em minha própria experiência, eu sei que o estado de Brahmacharya, seguido por algumas linhagens espirituais, é mais uma escolha. Ou seja, a pessoa neste estado, não tem mais compulsão ou carência sexual. Então, ela pode optar por não utilizar mais o sexo, caso queira. Contudo,  o sexo já não é mais uma compulsão nem carência, como antes. Por isso, pode ser ignorado ou não.


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